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A abertura de mercado e o consequente aumento do consumo de cosméticos no Brasil



Quando analisados os consumos per capita do Brasil em relação aos principais países consumidores, o gasto do Brasil se compara ao mesmo valor de muitos países desenvolvidos, como EUA, Japão e Alemanha. Esse consumo representativo impulsionou o desenvolvimento do setor nas últimas duas décadas e o número de empresas, somente nos últimos 10 anos quase que dobrou, passando de 1.427 indústrias para 2.444 entre 2004 e 2014. O faturamento do setor foi incrementado numa taxa anual de 10% nos últimos 18 anos, saindo de meros R$ 4,9 bilhões, em 1996, para R$ 38 bilhões em 2014. Vale ressaltar que o PIB e as indústrias no mesmo período cresceram somente 3,% e 2,2% ao ano, respectivamente. É importante também mencionar que a evolução média dos preços no período de 2007 a 2013 no setor de cosméticos foi de 3,6%, enquanto que nos demais setores da economia, segundo o IPC-FGV, foi de 5,0%.

O crescimento deste setor se deve a diversos fatores. Vale a pena ressaltar alguns deles:

Aumento do poder aquisitivo das classes C, D e E. A classe C agora consume produtos com maior valor agregado e as classes D e E têm acesso ao consumo desses tipos de produtos, por terem um maior poder aquisitivo, em consequência do aumento de renda;
Maior inserção das mulheres brasileiras no mercado de trabalho e no processo decisório de compras na família;
O aprimoramento das tecnologias de produção mais modernas com consequente aumento de produtividade, favorecendo os preços do setor, com menores reajustes em relação aos índices de preços nacionais;
Aumento da expectativa de vida dos brasileiros, gerando uma necessidade de conservar um aspecto de juventude;
Maior inserção dos homens brasileiros no mercado, com o consumo de produtos para a pele, cabelos, etc;
Maior concorrência internacional no mercado doméstico, que obrigou as empresas nacionais a lançarem constantemente novos produtos que atendam às necessidades crescentes de mercado.
Esse último fator foi de fundamental importância para resultar no forte déficit comercial do Brasil em relação ao resto do mundo, que pode ser visto para o ano de 2013 com o valor de US$ 412 milhões. Esse resultado representa um forte declínio na balança comercial que começou a se tornar deficitária em 2011, mas que vem declinando desde o ano de 2008, auge da Crise Econômica Internacional. Em parte, pode-se concluir que vários atores internacionais do mercado de cosméticos vislumbraram o forte crescimento interno no Brasil na demanda por produtos de beleza e passaram a focar o mercado brasileiro para sua expansão.

Como o Real se manteve, de certa forma, valorizado nos últimos 5 anos em relação ao dólar, e como a economia de muitos países desenvolvidos tem apresentado taxas de crescimento do PIB insignificantes, que resultam em abandono de produtos tidos como supérfluos, como os cosméticos, o caminho para o crescimento das indústrias de cosméticos de países como os EUA, França e Alemanha foi direcionar seus produtos e novos investimentos para o mercado brasileiro. Esse mercado, em forte expansão, com um Real relativamente valorizado e com relativa abertura de mercado, tanto pelo lado da demanda interna, em franca expansão, como pelo lado da oferta doméstica, crescente, mas ainda relativamente pequena, se comparada às grandes indústrias internacionais, propiciou o continuado aumento do consumo de cosméticos pelos brasileiros.

Diversas redes de vendas internacionais estrearam no mercado brasileiro, inaugurando lojas dos mais variados tamanhos, principalmente nos inúmeros shopping centers espalhados pelo País, com preços competitivos e oferecendo produtos cada vez mais reconhecidos pelos consumidores nacionais. Nos próximos anos deve-se esperar um movimento de acomodação do consumo desses tipos de produtos, principalmente se a pressão inflacionária sobre os demais bens de consumo tidos como essenciais se mantiver e se a restrição ao crédito realmente ocorrer na economia. Caso contrário, ainda poderemos ver números muito positivos no consumo, principalmente por conta da parcela cada vez maior do público masculino e infantil.

* Ecio é professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor de empresas



http://especiais.ne10.uol.com.br/projeto-bela/coluna-a-abertura-de-mercado-e-o-consequente-aumento-do-consumo-de-cosmeticos-no-brasil.php  

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