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Ecio Costa comenta em entrevista ao Jornal do Commercio sobre Elevação dos Preços de Commodities Agrícolas


Elevação dos preços dos Alimentos vai aumentar a fome
Publicado em 12.09.2010, Caderno de Economia, Jornal do Commercio

A alta no preço de alguns alimentos que são considerados commodities - mercadorias negociadas em bolsas de valores, como o trigo - vai aumentar a fome no mundo e atingir principalmente os países mais pobres da África, América Central e Ásia. “Nos países mais pobres, uma parte maior da renda das pessoas é usada para bancar a alimentação”, explica o professor da pós-graduação em economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ecio Costa. No mundo, 10 milhões de pessoas morrem anualmente devido à fome e à doenças ligadas à subnutrição. Grande parte desse contingente mora na África Subsaariana, região localizada no norte daquele continente.

Atualmente, o país africano de Moçambique é o exemplo mais extremo de como uma alta vertiginosa no preço dos alimentos básicos pode provocar estragos além dos bolsos. Em virtude do aumento de 30% no valor do pão, a população foi as ruas protestar no começo deste mês. O cenário foi de caos. Pararam o trânsito, queimaram veículos, impediram o transporte coletivo de funcionar e obrigaram lojas e bancos a fecharem as portas. Após dois dias de conflitos na capital Maputo, o saldo foi de 13 mortos, pouco mais de 30 feridos e mais de 150 prisões. Também houve distúrbios sociais no Egito e Paquistão, mas em menor escala.

Na semana passada, o índice de preços de alimentos levantados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) atingiu o nível mais alto desde setembro de 2008, embora esteja 38% menor do que registrado em junho de 2008 – a maior alta histórica. Este levantamento é composto por uma cesta que inclui carne, laticínios, cereais, óleos, gorduras e açúcar. Isso fez o diretor-geral adjunto de Desenvolvimento Econômico e Social da FAO, Hafez Ghanem, sugerir que as lideranças do G-20 elaborem medidas para garantir maior estabilidade ao mercado de commodities de alimentos no médio e longo prazos. Ele argumentou também que a alta de preços desses produtos ameaça a estabilidade do mundo.

No Brasil, a situação é bem menos alarmante. Primeiro, o País é um grande produtor de alimento. “O Brasil é o primeiro país de clima tropical e se juntar ao grupo dos maiores exportadores de commodities agrícolas”, diz o professor de economia da UFPE, Ricardo Chaves. Em terceiro lugar no ranking mundial, o Brasil só perde para os Estados Unidos e a União Europeia no mercado internacional de alimentos. “Somos os maiores exportadores mundiais de açúcar, carne bovina, carne de frango, café, suco de laranja, tabaco e álcool, e o segundo lugar em soja e milho.”

 

Outro fator que faz essa alta dos alimentos bater mais suave nos brasileiros é o fato de uma parte da classe D ter ascendido. “As pessoas que ascenderam para a nova classe média comprometem hoje uma parte menor da renda com alimentação”, lembra Ecio Costa.

 

Fonte: Jornal do Commercio, Caderno de Economia, 12/09/2010


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